A alta nas cotações do petróleo, após um acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para cortar produção, e do dólar, na esteira da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, deverão ser argumentos fortes para a Petrobras (SA:PETR4) elevar os preços da gasolina e do diesel no Brasil, disseram especialistas nesta quarta-feira.
A estatal anunciou recentemente que irá fazer revisões periódicas nos preços que cobra por estes combustíveis, para alinhá-los aos patamares internacionais e para garantir competitividade com concorrentes que importam os produtos para vender no mercado nacional.
Desde o último anúncio da Petrobras, em 8 de novembro, quando o preço da gasolina foi cortado em 3,1 por cento e o do diesel em 10,4 por cento, as cotações do dólar e do petróleo Brent dispararam.
Neste período, até a tarde desta quarta-feira, o dólar acumulava alta de cerca de 7 por cento. O anúncio da Petrobras ocorreu um dia antes do surpreendente resultado da eleição norte-americana, que agitou os mercados de câmbio ao redor do planeta e provocou desvalorização da moeda brasileira.
Já os preços do petróleo foram catapultados nas últimas horas por uma decisão da Opep para limitar seu bombeamento, o primeiro corte do gênero dentro do cartel desde 2008.
No acumulado desde 8 de novembro até a tarde desta quarta, os ganhos do Brent chegam a cerca de 8,5 por cento, sendo que o salto da atual sessão chegou a mais 8 por cento.
"Se a Petrobras quiser manter o mesmo prêmio (que tinha quando anunciou seu último ajuste de preços), teria que aumentar gasolina e diesel por volta de 16 por cento, numa média ponderada desses dois combustíveis", disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, tomando como parâmetro que os atuais patamares do petróleo e de câmbio se mantenham até a próxima decisão da estatal.
O analista destacou que a Petrobras pode decidir reduzir suas margens na comercialização de combustíveis, mas assinalou que "de qualquer maneira, em dezembro, vai ser difícil a Petrobras não dar aumento para gasolina e diesel".
Até a véspera, em 29 de novembro, a Petrobras vendia gasolina e diesel 6,5 por cento acima dos valores dos combustíveis importados (somados os preços de aquisição no interior e custos de internalização), segundo cálculos da Tendências Consultoria.
"Com esse aumento do preço do petróleo ficaria mais ou menos zerada essa diferença", disse o analista de petróleo da Tendências, Walter de Vitto.
Neste cenário, segundo ele, a Petrobras teria alguma margem para decidir não realizar nenhuma um reajuste, já que seus concorrentes que operam com gasolina importada estão perdendo competitividade.
"Mas pode ser política dela continuar praticando essa margem. Pode ser que queiram manter a margem e esse aumento de preço (do petróleo) seria repassado ao consumidor", analisou De Vitto.
Os analistas lembram que a adoção da nova política de precificação de combustíveis da Petrobras ainda é muito recente --foi inaugurada com um anúncio de cortes na gasolina e no diesel em 14 de outubro, a primeira redução desde 2009. Será preciso ainda acompanhar o comportamento da direção da empresa por um período mais longo.
As decisões sobre os preços de gasolina e diesel são tomadas por um comitê de apenas três executivos da Petrobras: o presidente, o diretor financeiro e o diretor de refino. As linhas gerais da política de preços foram anunciadas, incluindo "preços nunca abaixo da paridade internacional", mas os detalhes da fórmula continuam uma incógnita para o mercado.
FAVORECE FINANÇAS
Para as finanças da companhia, disse De Vitto, a alta do petróleo é atualmente bastante positiva.
"Antes tinha uma conta negativa porque pagava para importar. Hoje, eles praticam preços de mercado e importam muito menos. Além disso, a empresa está exportando um pouco mais", o que garantiria bons negócios na venda externa de petróleo.
Nesta quarta-feira, uma fonte com conhecimento das discussões disse à Reuters que a Petrobras ainda vai monitorar o comportamento do câmbio e do petróleo nos próximos dias, mas que o viés é de alta para a gasolina e o diesel.
"Com certeza, o viés hoje é muito mais para um viés de alta do que de baixa. Sem dúvida", disse a fonte.
Para as indústrias de etanol, as notícias são favoráveis, disse o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, especialista no setor sucroalcooleiro.
"Isso (alta da gasolina) seria coerente com a nova política que Petrobras está imprimindo. Certamente seria favorável para o etanol, já que aumenta o teto para o preço do biocombustível", disse Nastari.
Nenhum comentário:
Postar um comentário